domingo, 24 de janeiro de 2010

Isto é uma vergonha!



É uma pena ter que iniciar o primeiro post do ano falando de um assunto que me envergonhou, não apenas como futura jornalista, mas principalmente como cidadã.

Acho que isso resume o sentimento ante o infeliz comentário de um dos mais renomados jornalistas do país, Boris Casoy.

Recentemente recebi uma cópia da carta que Devanir Amâncio - que tive a honra de entrevistar no ano passado sobre a ONG Educa São Paulo que dentre tantos projetos possui uma biblioteca voltada para garis - escreveu à Organização Internacional do Trabalho (OIT) e resolvi postá-la aqui.

Segue:

Carta à Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Mensagem de Desrespeito

Contra a Dignidade do Trabalho


A ONG Educa São Paulo, que tem seu raio de ação junto à população humilde e/ou excluída, principalmente da degradada região central da Cidade de São Paulo, Brasil, sente-se no dever de vir á presença dessa prestigiosa instituição para denunciar um brutal e preconceituoso ataque contra modestos e vulneráveis trabalhadores. O evento se reveste de superior gravidade se for levado em conta que foi divulgado por uma grande rede de televisão brasileira, pela boca de um dos seus apresentadores, dito âncora, que goza de inegável e consagrado respeito junto à opinião pública do país. As deletérias conseqüências do ato, que merece pronta, dura e justa resposta, propicia-nos a liberdade de descrever detalhadamente o episódio no sentido de oferecer subsídios para as avaliações necessárias.

Na noite de 31 de dezembro de 2009, o telejornal intitulado “Jornal da Band”, produzido e exibido pela Rede Bandeirantes, foi encerrado com singelas imagens de dois garis desejando votos de feliz ano novo aos telespectadores. Assim agiram por especial convite dos produtores do programa. É oportuno lembrar que a palavra gari, no Brasil, designa trabalhadores que operam em duplas e que varrem manualmente as ruas da cidade para conservá-las limpas. Apresentavam-se com seus conhecidos uniformes cor de laranja, apoiavam-se em suas respectivas vassouras e mostravam o sorriso aberto e ingênuo das pessoas simples. Na cena seguinte, durante a exibição dos nomes da equipe produtora do telejornal, os chamados créditos, o âncora Boris Casoy, supondo que seu microfone já estivesse desligado, emitiu o seguinte e insultuoso comentário:

“Que merda! Dois lixeiros, do alto de suas vassouras desejando feliz ano novo... O mais baixo da escala social do trabalho...” Algumas vozes riram no fundo do estúdio, como pode ser percebido no áudio vazado.

A humilhante manifestação ganhou rapidamente espaço na Internet e hoje é uma das campeãs de acesso no portal YouTube. Evidentemente os internautas, em sua maioria, são suficientemente sensíveis e conscientes para salvaguardar os trabalhadores de tão abjeta agressão. Mas persiste o fato de que tal agressão permanece, ferindo dignidades e arranhando auto-estimas, inclusive porque as desculpas lançadas pelo apresentador no dia seguinte foram chochas, enfadonhas e pouco convincentes, sugerindo que o agressor mais cumpria ordens superiores para proteger os interesses da emissora, do que por real sentimento de remorsos. Por outro lado a Rede Bandeirantes fechou-se em incompreensível mutismo, recusando até mesmo receber os representantes do sindicato da categoria que foram pedir-lhe explicações.

O objetivo deste comunicado é claro e direto: buscar a justiça. Os indícios até agora recolhidos indicam que os trabalhadores não receberão o merecido reparo. A nossa esperança é de que essas notícias, sendo relatadas em plenário tão soberbo quanto o da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo menos, ou no mínimo, constranjam seus autores, não voltem a se repetir. Julgamos que a OIT seja o Fórum adequado para receber esse tipo de mensagem.


Devanir Amâncio

Presidente da ONG Educa São Paulo


Rua do Ouvidor, 56 – Praça da Bandeira - Cep: 01005-030- São Paulo (SP) Brasil.

Tel. (11) 3107-5470 Cel. (11) 8352-2338




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